quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Arrume o seu quarto. Vá por mim.


Quer um conselho? 
Eu poderia dizer: não se apaixone, ou se apaixone. Não tome decisão precipitada, ou "vá nessa, embarque! Não chore, não coma carne de porco, ou até mesmo, não curta música brega.
Mas, se ainda quer um conselho, eu te dou. Arrume o seu quarto!

Certo dia, ouvi dizer que: "quando o seu quarto está bagunçado, a sua vida também está." Até que ponto isso é verdade eu não sei [ou até mesmo sei rs...]. Eu não sou de acreditar em superstições, eu acredito em Deus, isso sim. Acontece que, desde segunda feira, dia 25/01/0 a minha vida deu uma verdadeira guinada de 180°, e graças a Deus, para muito melhor. Não sei se por coincidência [dizem que nada é coincidência], domingo agora, dia 24/10, eu arrumei o meu quarto.
Ele realmente estava terrivel. Bagunçado, desorganizado, todas as coisas fora do lugar. Assim como minha vida. Principalmente no ambiente familiar e amoroso.

No aspecto amoroso, era verdadeiramente lamentável. Ver duas pessoas que ainda se amam, caminhando para lados opostos é muito triste. A certo tempo, nós não nos entendíamos. AMBAS sofremos muito. Eu por querer insistir em uma relação, aparentemente sem futuro e ela por estar em duvidas do que sentia. Por diversas vezes, teve a certeza de que não era eu que ela queria. E numa dessas certezas, resolvemos, ou melhor, ela resolveu acabar tudo. Tivemos a coragem necessária, e colocamos um ponto final em nossa história. E isso aconteceu o ultimo sábado. [post anterior].

No ambiente familiar, eu vivia um completo caos. "o caos reina - Las Von Trier"
Desde que assumi a minha bissexulidade/homossexualidade, causei uma tremenda dor nas pessoas que mais amo. Minha irmã, meu pai e MINHA MÃE. E desde então, realmente, o caos reinou em minha casa. Minha familia ruiu. Eles não aceitaram, não entenderam. Perdemos completamente o diálogo, o contato, o vinculo. E eu, me isolava a cada dia. Ao voltar do trabalho, me encaminhava para o quarto, e de lá apenas saia no dia seguinte, pra voltar a trabalhar. 
A razão da minha vida, minha mãe, mau olhava pra mim. Esbarrávamos pela pequena casa, trocávamos algumas palavras e só. Em meu silêncio, eu compreendia a sua dor de mãe. Realmente não é fácil, para uma mãe ver seu filho [a] amado [a] fugindo dos "corretos padrões" que a sociedade impõe, e ela segue como um cão fiel. 
Eu sofri também com tudo. Imagine você, ouvir no meio da noite o choro e palavras constantes: "meu Deus, por que?"  Ela não se conformou. E acredito que nunca irá. Com o fato de eu ter jogado um casamento pra o alto, e querer viver como eu realmente quero. E para mim, isso é compreensível.  E então, foram seguindo os dias, semanas e meses. Torturantes.

Domingo agora, resolvi contar tudo para uma pessoa muito especial em minha vida. Ela ainda não sabia o que havia ocorrido. Minha prima, uma verdadeira irmã pra mim. Mesmo sem saber da sua reação, enchi os meus pulmões e contei. Ela chorou. Assumiu de que pra ela também foi um choque. Mas ela me apoiou. Me abraçou, me respeitou, me enxergou e me encontrou. Pois, até então eu estava completamente perdida. E ter o seu apoio de SANGUE foi  fundamental pra mim, pra aliviar um pouco da angustia que eu sentia. Sei que o seu amor por mim, jamais irá acabar e que poderei contar com ela, sempre!
Neste mesmo dia, ela resolveu ter uma conversa com minha mãe. Entre lágrimas e vinho tinto, ela disse que nada havia a ser feito, a não ser, respeitar, apoiar. Pois agora mais do que nunca, eu precisava do respaldo da familia. Para que assim, eu não me perdesse de vez.
Enquanto isso, e seguindo o seu conselho, fui limpar o meu quarto.
-- Você sabe. Quarto bagunçado, atrai coisas ruins.
Limpei o chão, troquei os lençóis, pus os livros e DVD's em seus devidos lugares, limpei as estantes e prateleiras. Limpei tudo! Logo, o meu dia acabou. Fui dormir vazia e sem perceptivas. A semana seria tão somente a mesma da anterior. 

E assim começou. Segunda feira, trabalho, papéis, documentos, chefe, pendências. Nem ví o dia passar. Eu já vem via a VIDA passar.
Quando as 16:32 desta linda segunda-feira, meu celular chama. Inevitável não sorrir com a trilha sonora da Paola Bracho tocando alto. Olhei no visor, e surpreendi. Era Bárbara. Ligou pra me dizer algo que a muito não ouvia, e sempre esperei.

-- Amor? Quero te ver.
-- È mesmo? Isso é bom. Mas teremos que esperar sábado que vem. 
-- Eu sei. [ silêncio] Amor?
-- Oi.
-- Eu não queria ter terminado com você. Eu realmente percebi, que É VOCÊ. É você quem eu quero, e ninguém mais! Eu amo você, e quero voltar. Se assim você quiser, claro.

Depois de um breve momento de vertigem [isso mesmo, eu tive uma vertigem], abri um largo sorriso [desses que só eu sei dar] ainda confusa e incrédula. Aquela mulher, que eu tanto amo, me dizia agora o que eu mais desejei ouvir. E depois de conversar, decidimos reatar. Quem me conhece, já pode imaginar a cara de boba que eu fiquei a tarde inteira. ELA HAVIA VOLTADO PRA OS MEUS BRAÇOS. E agora, confiante de que não pretende sair tão cedo.

Mas o melhor, ainda estava por vir. Agora, eu irei narrar cronológicamente e minuciosamente os fatos.
No caminho de volta pra casa, após o trabalho, parei numa loja de artigos variados, pra comprar uma caneta. Permaneci no lugar uns quinze minutos, enquanto papeava com a proprietária. Reparei que no lado esquerdo do balcão. Reparei que ao lado esquerdo do balcão da loja, havia uma grande variedades de cartões. De amizade, amor, aniversário, evangélicos  e ... para mães. Não sei o que me deu. Pensei em comprar um cartão e entregar a minha mãe, mesmo com a incerteza de sua reação. Se iria gostar ou achar que eu estou fazendo média. Contudo, senti uma avassaladora vontade de dar este pequeno gesto de agrado de filha, sem esperar nada em troca. O cartão dizia: "mãe,a única pessoa no mundo que vai realmente sentir as minhas dores e sorrir com minhas alegrias." Peguei a caneta que havia comprado, e dediquei o cartão. 
Eu não lembro exatamente as palavras que usei, mas disse que, assim como ela eu estava sofrendo muito! Que o que mais queria no mundo, era o seu perdão e seu carinho de volta. E que um dia, possamos diálogar sobre tudo e qualquer coisa. E por fim, que eu a amava demais.
Cheguei em casa, e entreguei o cartão. Ela leu. E quando se voltou pra mim, seus olhos estavam inundados, assim como os meus. Então, me abraçou e me disse:
-- Eu te PERDOO filha! Só não me faça sofrer mais. E tome muito cuidado, evite sair tanto. O mundo lá fora é muito perigoso.

Ouvir aquilo, foi um verdadeiro bálsamo para minhas feridas abertas. Eu obtive o perdão da pessoa que mais amo no mundo. E que um dia, magoei demais. Ficamos abraçadas durante minutos. Meu coração completamente disrritmado e meu corpo protegido em seus seguros braços.

Depois, ela foi pra cozinha, reclamando por eu não estar me alimentando bem. Fez meu jantar. [coisa que já era rara de acontecer rs...]
Em seguida, encheu meu quarto com sua presença e disse: " não use roupa de homem não viu? Use maquiagem! Você fica linda de maquiagem!"
Então sorri. E respondi: "Tá certo mainha. Pode deixar"

E desde então, os meus dias estão MARAVILHOSOS. Tenho o apoio incondicional da minha prima/irmã, e ela foi peça fundamental pra que essa reconcialiação tivesse ocorrido. 
O meu amor, voltou pra os meus braços, em TODOS OS SENTIDOS [estamos muito felizes. Te amo Bárbara!]
E o melhor: Estou reconquistando a MINHA MÃE!

Eu já disse que não sou supersticiosa. Tenho fé em Deus. E peço que ele olhe por mim, todos os dias.

Mas, se ainda quer um conselho...
Não custa nada. ARRUME O SEU QUARTO!


Recife, 27 de outubro de 2010.

R.

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